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Conteúdo atualizado em 13.03.2024


Estudo de enxerto ósseo é destaque internacional

Luís Victorelli
23/07/2013

Estudo de enxerto ósseo é destaque internacional

Resultados são destaque na Journal of Periodontology, uma das mais conhecidas e conceituadas revistas científicas da Odontologia mundial.

Estudo revela que quando o osso receber um enxerto e o próprio enxerto são desmineralizados superficialmente por ácido cítrico, antes da fixação, a consolidação do enxerto melhora e há uma formação acelerada de novo osso entre essas superfícies. Essa descoberta de uma equipe de pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP) acaba de ser aceita para publicação na revista Journal of Periodontology.

Trata-se da segunda revista científica mais influente na área odontológica no ranking JCR (Journal Citation Reports) que atribui um escore chamado Fator de Impacto para as revistas que se enquadram em normas rígidas de qualidade. “As pesquisas que estamos realizando na Disciplina de Periodontia se baseiam em um método para não apenas aumentar a consolidação dos enxertos ao osso receptor, como também diminuir o tempo de espera entre a cirurgia de enxerto e a de instalação do implante e, consequentemente, diminuir o tempo de duração do tratamento como um todo”, informa a professora Maria Lúcia Rubo de Rezende, pesquisadora responsável pelos estudos.

Rezende explica que quando os dentes são extraídos, com o passar do tempo, o osso que lhes servia de suporte vai diminuindo gradativamente de espessura e altura. Essa diminuição da estrutura óssea dificulta e restringe as possibilidades de reabilitação por meio de próteses tanto convencionais como as suportadas por implantes dentários. Frequentemente é necessário que as pessoas que perderam seus dentes há algum tempo, se submetam a cirurgias de enxerto ósseo para reconstruir o osso perdido antes de receberem implantes dentários.

O tipo de enxerto mais previsível é o autógeno, isto é, aquele em que o doador é a própria pessoa que vai receber o enxerto, mas é necessário esperar um tempo de aproximadamente seis meses antes que os implantes sejam instalados na área enxertada. Nesse período, frequentemente o paciente não pode usar nenhum tipo de prótese. Um problema comum entre os profissionais que executam esses procedimentos é que, mesmo que a cirurgia de enxerto tenha sido aparentemente bem sucedida, no momento da colocação do implante no osso enxertado, pode haver destacamento do enxerto e isso ocorre quando o enxerto não se consolida (ou adere) bem ao osso receptor (local enxertado).

No trabalho apresentado pela pesquisadora bauruense, realizado em cobaias e apresentado como tese de Livre Docência, “a ideia de desmineralizar o osso partiu do professor Euloir Passanezi, um dos maiores nomes da Odontologia brasileira e professor aposentado da Disciplina de Periodontia da FOB-USP, que considerou que existem elementos na matriz óssea capazes de acelerar o reparo tecidual, mas que estão impedidos de agir pela presença de minerais como o cálcio. A hipótese do professor Passanezi está sendo confirmada passo a passo por nossas pesquisas”, afirma.

O artigo recebeu de parte da Journal of Periodontology o seguinte comentário: "Este é um importante estudo que procurou desenvolver um novo método para melhorar a incorporação de enxertos ósseos durante o período de regeneração. O experimento bem desenvolvido traz conclusões sólidas”.  Rezende reconhece que tais observações reforçam o ineditismo e a relevância do estudo. Fizeram parte dessa publicação os seguintes autores: Maria Lúcia Rubo de Rezende, Alberto Consolaro, Adriana Campos Passanezi Sant'Ana, Carla Andreotti Damante, Sebastião Luiz Aguiar Greghi e Euloir Passanezi.

“Como a Journal of Periodontology é uma das mais conhecidas e conceituadas revistas científicas da Odontologia no mundo, certamente trará uma grande visibilidade para o trabalho de nossa equipe de pesquisa e, consequentemente, da Faculdade de Odontologia de Bauru, USP. Mas o que mais importa é o benefício que poderão receber os pacientes que necessitam de enxertos ósseos à medida que o procedimento for transferido para a clínica, ou seja, diminuição do tempo de duração e aumento do sucesso dos tratamentos empregando enxertos ósseos”, conclui.

Mais resultados sobre desmineralização óssea

A pedido da Reportagem, a professora Maria Lúcia Rubo de Rezende elencou, além dos já citados, outros resultados empregando a desmineralização óssea em enxertos.

1 - É mais difícil destacar um enxerto que foi desmineralizado do que um que não foi. Esta conclusão partiu de um teste mecânico de micro-tração e foi parte dos resultados da dissertação de mestrado do cirurgião-dentista Marcus Gustavo Silva Rodrigues, de Vitória (ES), sob orientação de Rezende.

2 - A consolidação de enxertos feitos com desmineralização por ácido cítrico ocorreu em cerca de metade do tempo em comparação aos enxertos feitos sem desmineralização, com maior formação e manutenção do volume de osso ao longo tempo. Estas conclusões fizeram parte da tese de doutorado da cirurgiã-dentista Roberta Santos Domingues, do Rio de Janeiro (RS), sob orientação de Rezende e com a colaboração do professor Dr. Alberto Consolaro da Disciplina de Patologia da FOB-USP.

3 - Osteoblastos (células produtoras de osso) cultivados sobre superfícies ósseas desmineralizadas por ácido cítrico a 50% em pH 1 durante tempo variável de 15 segundos a 3 minutos, cresceram e diferenciaram-se melhor do que em superfícies não desmineralizadas. Estes resultados foram parte da tese de doutorado de Pedro Teixeira Garcia Coesta, de Campinas (SP), sob orientação de Rezende, e colaboração dos professores Rodrigo Cardoso de Oliveira, da Disciplina de Bioquímica da FOB-USP e Carla Andreotti Damante, da Disciplina de Periodontia da FOB-USP.

4 - Para analisar a superfície óssea desmineralizada, testes com microscópio eletrônico de varredura acoplado a um espectrômetro de energia dispersiva (EDS) mostraram que a desmineralização por 15 ou 30 segundos expõe elementos como enxofre e magnésio que fazem parte de moléculas importantes para a adesão e diferenciação celular. Esses achados forneceram embasamento biológico para o melhor desempenho dos osteoblastos em superfícies desmineralizadas

Próximos passos


Os próximos passos são a caracterização da superfície desmineralizada e a identificação dos fatores que justificam os resultados já encontrados em nível molecular e celular. Já havia informação suficiente quanto aos benefícios do ácido cítrico na superfície de raízes de dentes com doença periodontal. Esses benefícios se referem à melhor cicatrização do osso e da gengiva que se tornam mais aderidos ao dente depois do tratamento com o ácido. No osso, suspeita-se de que, quando o ácido remove parte do cálcio que faz parte da estrutura mineralizada, algumas moléculas chamadas proteínas ósseas morfogenéticas e outras, chamadas genericamente de fatores de crescimento, passem a atuar estimulando diretamente as células responsáveis pela formação do osso e, talvez, células tronco.

“Como esse tipo de investigação envolve tecnologias complexas e exige um conhecimento especializado, acabamos de enviar uma de nossas doutorandas, Samira Salmeron, para a Universidade do Sul da Califórnia em Los Angeles (EUA), onde ela fará, sob supervisão do prof. Homayoun Zadeh, estudos com cultura de células, microscopia confocal, microscopia eletrônica e testes como RT-PCR, que são específicos para comprovar o embasamento biológico do emprego do ácido cítrico no osso”, informa a pesquisadora. Quando retornar ao Brasil, no final do ano, Samira Salmeron defenderá sua tese de doutorado e, com a experiência adquirida em Los Angeles, nos ajudará a estabelecer aqui na FOB, o mesmo protocolo empregado nos Estados Unidos para esse tipo de pesquisa. Outros colaboradores envolvidos nesse projeto são os professores Arthur Alves Fiocchi e Luiz Eduardo de Angelo Sanchez da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unesp-Bauru e Marcelo de Oliveira Freire da Universidade de Harvard (Boston – USA). Enquanto isso, aqui no Brasil, há outros pesquisadores trabalhando nessa mesma linha nas áreas de Periodontia e Implantodontia.

Ineditismo


Embora o emprego do ácido cítrico já seja conhecido no tratamento de doença periodontal, o seu uso em enxertos ósseos é inédito. Rezende revela que “os resultados preliminares foram tão impactantes, que o artigo com nossos primeiros resultados foi imediatamente aprovado e enaltecido pela Journal of Periodontology, cujo alcance vai projetar mundialmente o nome da nossa equipe de pesquisa, de nossa faculdade, além de difundir um método que poderá vir a beneficiar milhares de pessoas necessitadas de reabilitação por implantes, já que envolve um procedimento simples, barato e de fácil execução”. Com o avanço das pesquisas, é provável que o mesmo princípio passe a ser empregado em defeitos ósseos periodontais, em cirurgia bucomaxilofacial e, quem sabe, em áreas da Medicina, como Ortopedia e Cirurgia Plástica Reconstrutiva.

Grupo de Pesquisa

No grupo de pesquisa da Disciplina de Periodontia da FOB-USP, outras linhas igualmente importantes vêm sendo desenvolvidas como: emprego do laser em processos de reparo tecidual e na diminuição da sintomatologia de pós-operatórios; cirurgia plástica periodontal; medicina periodontal; regeneração óssea empregando novos biomateriais; tratamento de doenças inflamatórias ao redor de implantes entre outras. Fazem parte dessa equipe, os professores Sebastião Luiz Aguiar Greghi, Adriana Campos Passanezi Sant’Ana, Carla Andreotti Damante, além da própria professora Maria Lúcia Rubo de Rezende.

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